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[RESENHA] Café da Manhã dos Campeões

 


Olá, leitores!

Páginas: 400 | Autor: Kurt Vonnegut | Editora: Intrínseca | Ano: 2019 | Gênero: Fantasia, Horror e Ficção Científica | Tradução: André Czarnobai | Classificação indicativa: +14

1492. Os professores diziam às crianças que foi nesse ano que o continente havia sido descoberto pelos seres humanos. Mas, na verdade, milhões de seres humanos já estavam vivendo vidas plenas e fantásticas naquelas terras em 1492. Aquele foi simplesmente o ano em que piratas começaram a enganá-los roubá-los e matá-los. Também ensinavam outro absurdo maligno às crianças: que esses piratas criaram um governo que se tornaria a chama da liberdade para os seres humanos de todas as outras partes do mundo.

Em Matadouro-Cinco, o primeiro livro do autor que tive a oportunidade de ler, Kurt Vonnegut mostra uma história com uma temática um pouco mais séria, principalmente porque, como eu havia comentado, ele usou da sua experiência como veterano de guerra na escrita. Porém lá no prefácio de Matadouro-Cinco, ele diz que sua próxima obra seria mais divertida. Essa obra é Café da Manhã dos Campeões que foi lançado alguns anos depois.

Ouso dizer que essa obra, ao menos para mim, apesar de ser um pouco menos conhecida do que a primeira, foi ainda melhor para mim. De um bom humor ácido que agora percebo ser uma das melhores características do autor em sua escrita, ele usa de seu sarcasmo para abordar e criticar questões importantes da cultura dos EUA. Você sabe que ele está despejando um veneno repleto de verdades porém isso é feito de uma forma tão leve que não tem como não dar risadas com aquele humor que mistura um certo non-sense com fatos, como se ele mesmo não se levasse a sério.


Os piratas eram brancos. As pessoas que já habitavam o continente quando eles chegaram tinham a pele acobreada. Quando a escravidão foi introduzida no continente, os escravos eram negros. Cor era tudo.

Eu nunca vou me entender direito até eu descobrir se a vida é séria ou não. Ela é perigosa, eu sei, e pode machucar muito. Mas isso não significa necessariamente que ela também seja séria.

Aqui, partindo do princípio de que as pessoas não possuem certo livre-arbítrio, são extremamente influenciáveis. Afinal, como uma pessoa comum reagiria ao estado de declínio e autodestruição do planeta Terra se tivesse a opção de escolher e tomar decisões por si?

Os dois protagonistas do livro já são nos apresentados na primeira página. Um deles é Dwayne Hoover, que é um cara bem sucedido, vendedor de automóveis Pontiacs, além de restaurantes, hotéis e outros empreendimentos. Porém, apesar de todo esse sucesso nos negócios, as pessoas próximas a Dwayne começam a perceber mudanças em seu comportamento, como se ele estivesse à beira de um colapso nervoso. 

... não sabia que os seres humanos podiam se contaminar facilmente por uma simples ideia, da mesma forma que pela cólera ou pela peste bubônica. Na Terra, não havia imunidade a ideias malucas.

Logo no início a gente já sabe que o desfecho de Dwayne não vai ser dos melhores. O famoso "vai dar merda!" está prestes a acontecer e esse é um dos muitos motivos que nos faz grudar nas páginas já que, como leitor, ficamos querendo saber o que ele aprontou.

O outro protagonista é o Kilgore Trout que é um escritor de sci-fi completamente esquecível, com várias obras publicadas porém praticamente desconhecido, um "zé-ninguém" de idade avançada que recebe um convite para participar de um festival de arte por um fã (algo que ele não leva a sério de início), sendo nesta viagem que acaba sendo o ponto de ignição do surto de Dwayne.

A obra toda possui ilustrações do próprio autor. Desenhos que parecem ter sido feitos sem muito capricho por uma canetinha preta mas que dão grande parte do toque de humor na obra, principalmente quando fala sobre as obras de Trout, publicadas anonimamente em revistas pornôs.


A insanidade incipiente de Dwayne era, em sua maior parte, uma questão química, é claro. O corpo de Dwayne Hoover estava produzindo certas substâncias que desequilibravam sua mente. Mas Dwayne, assim como todo aprendiz de lunático, também precisava de algumas ideias erradas para que sua loucura tomasse forma e direção. Ideias erradas e substâncias químicas erradas são o yin-yang da loucura. Yin-Yang é o símbolo chinês de harmonia.

Eis aqui como Trout acabou por influenciar Dwayne de forma indireta: ele cria uma história em que todas as pessoas são robôs mas que apenas um ser humano tem essa noção do que está acontecendo. O que ele não esperava era que Dwayne, ao ler a obra, fosse levar aquilo como uma mensagem para ele, o que o faz pensar que ele é a pessoa no meio dos robôs.

Uma coisa legal é o paralelo de alguns personagens do livro com Matadouro-Cinco e também a presença do próprio Kurt em determinado momento importante da trama. É uma obra que se eu fosse definir em uma palavra, seria ÚNICA. É incrivelmente genial, de uma forma que já te prende no primeiro capítulo. O autor tira sarro de tudo que normalmente vemos sendo extremamente respeitado em obras americanas, como a bandeira, a escravidão, economia, racismo, as pessoas, o descobrimento da América. Ele levanta discussões sérias de uma forma leve e sarcástica. Até mesmo aquele american way of life é zuado. 

Nossa consciência é tudo aquilo que está vivo e talvez seja sagrado em cada um de nós. Todo o resto é apenas um monte de maquinário sem vida.

A narrativa da obra é um ponto altíssimo, onde um narrador narra de um jeito não muito polido, beirando ao ridículo e a falta de noção, ilustrando de forma bem medíocre alguns tópicos. É uma narrativa tão leve e fluída que grande parte da obra eu li em apenas uma tarde. Sei que é um tipo de narrativa que não funcionaria para todos os leitores mas vale bastante a tentativa, porque tem diversas mensagens e discussões importantes através das linhas.

E a edição da Intrínseca também não fica para trás. A tradução está incrível e o fato de terem mantido as ilustrações originais do autor deixa tudo ainda melhor. Foi um dos meus livros favoritos de 2021, que merece ser ainda mais conhecido.

Ei, escuta só: você é a única criatura que possui livre-arbítrio. Como você se sente com relação a isso?


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2 comentários:

  1. Oi, Larissa. Tudo bem? Uau parece um livro incrível. Que bom que gostou da obra. A resenha ficou maravilhosa. Abraço!

    http://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Olá! Admito que não é o tipo de livro que costumo ler, mas que bom quer sua experiência de leitura foi positiva. Deste autor eu ainda não conferi nenhuma obra. Bjos!! Cida
    Moonlight Books

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