[RESENHA] Guia para lésbicas na escola católica

Olá, leitores!

Yami é mexicana e lésbica. Além de ter sempre que se preparar para discriminações onde quer que vá pela cor de sua pele, ela tem medo da rejeição dentro da própria casa, por conta de sua sexualidade. Ela e seu irmão irão estudar em uma escola nova, católica, o que torna o desafio ainda maior. Yami também pretende ter alguma renda para ter um meio de se sustentar caso sua mãe descubra que ela é lésbica e a coloque para fora de casa. Particularmente acho isso um medo absurdo de enfrentar. Mostra que ela vê o medo sendo maior do que o amor de sua mãe por ela.

O receio da não aceitação de sua mãe vem, principalmente, da crença tácita no catolicismo, resultando em falas em que sua mãe já admitiu abertamente ser contra pessoas da comunidade LGBTQ+. Essa não é a regra, nem todos são assim, mas infelizmente ainda vemos pessoas que se escondem por trás de alguma religião para destilar ódio.

A chegada na escola para Yami a faz encontrar Bo, uma garota chinesa que tem detalhes LGBTQ+ pela roupa, é ativista, e implacável em defender suas ideias. Mas para Yami é cedo demais garantir que tem alguém que saiba suas lutas também na escola. A amizade delas é algo gradual, embora Yami, apesar de tentar sempre negar algo relacionado à sua sexualidade e manter escolhas que a caracterizem como hétero, se mantenha sempre interessada em Bo. Essa é mais uma relação de amizade, na maior parte do livro, e garanto que também recebemos um slow burn (queimar lento) bem lento mesmo. Nada é instantâneo aqui, em alguns momentos já estava pelos cabelos querendo que as duas falassem algo e fossem além da amizade.

Outras relações importantíssimas na leitura é a família de Yami. Seu irmão é mais novo, mas está em uma série a mais que ela, e mantêm um segredo importante. Os dois são unidos, com acordos silenciosos, companheirismo, e implicância de irmão garantida; Sua mãe é uma figura que Yami mantém sempre nos pensamentos. No início não sabia bem como interpretar o medo que a protagonista tinha da mãe sobre descobrir ser lésbica e até mesmo fiquei brava com a mãe dela. Isso de impor no filho algo só porque não respeita é horripilante; Seu pai já é uma figura longe que no começo parecia bastante próximo. Tive uma experiência engraçada com ele e a mãe de Yami. No começo odiava um e adorava o outro, e no final minhas reações foram inversas.

Ela desliga a televisão, reiterando minha decisão de me negar a lhe falar sobre minha sexualidade. Nada de lésbicas em casa, isso não é de Deus. Talvez ela não acredite de verdade nisso. Ou talvez acredite.

A fluidez do livro é ótima, dá para ler muitas páginas em pouco tempo. A história me deixou apreensiva pela protagonista precisar constantemente esconder sua sexualidade de todos ao seu redor por medo da rejeição, e em favor dos outros, mesmo quando sabemos que, essa necessidade constante de nos policiar pela aceitação alheia, não nos ajuda em nada. É um dilema que, apesar de difícil, gostei de acompanhar. Estava torcendo para ter um final feliz.

Algo revoltante no livro é que a protagonista, de apenas 16 anos, precisa ter algumas responsabilidades que pesam demais nela, afetando o seus estudos, e seu desempenho em várias áreas. Mas, de novo, vem a ideia de que ela precisa andar na linha para que sua mãe aceite sua sexualidade quando finalmente descobrir. Não que ajudar a família seja algo negativo, mas arcar com responsabilidade que é maior do que ela pode suportar, enquanto ela mesmo é negligenciada no processo, é insuportável.

O resultado, infelizmente, é que ela mesmo acaba sendo deixada de lado às vezes, e as decisões dos outros, como as do irmão dela, acabam recaindo sobre ela como se tivesse culpa sobre uma decisão ruim escolhida por ele. Isso me deixou revoltada pela protagonista nunca conseguir realmente ser ela mesma, e acabar sendo, às vezes, uma sombra idealizada por quem ela quer agradar. No final, meu coração ficou quentinho, mas para chegar até isso, houve percalços. Infelizmente algumas pessoas não vão nos entender, irão desgostar de quem realmente somos, e mesmo que tenham sido importantes em algum momento, esse dilema nos separa, como acontece no livro.

A história foi trazida para o Brasil em uma linda edição, além de cores vibrantes, a arte ficou linda, e assim pude visualizar melhor Yami. Também é encantadora a diagramação, tudo em harmonia. Amei os inícios de capítulos, que são sempre cômicos, mesmo os mais sérios. A narração de Yami também é espetacular, sendo mais juvenil, com gírias, e leve.