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[RESENHA] Eu sou o rei do castelo


Olá, leitores!

Páginas: 240 | Autora: Susan Hill | Editora: DarksideBooks | Ano: 2023 | Tradução: Mariana Serpa | Gênero: Horror, Suspense, Psicológico, Ficção | Classificação Indicativa: +14

Sempre deixei claro o quanto livros com protagonistas crianças ou adolescentes me incomodam. Geralmente não consigo me conectar com os personagens e as cenas com eles acabam sendo bem irritantes para mim, impactando no resultado.

Iniciei a leitura de Eu sou o rei do castelo sem ter lido a sinopse. Apenas sabia que era um livro comparado ao clássico O Senhor das Moscas, o que foi o suficiente para me passar uma ideia do que esperar: crianças de psicológico questionável (falando de forma grosseira, claro).

A gente fica se mudando, pensou ele, a gente vai para lugares horríveis, e continua sem pertencer a lugar nenhum.


Charlie Kingshaw é um garoto de onze anos que, junto de sua mãe, vai morar na casa da família Hooper, junto do viúvo e Edmund, um garoto da mesma idade de Charlie mas com a mente completamente diferente. A ideia de ambos os pais é a de que os dois garotos se tornem grandes amigos e possam se apoiar em meio aquela paisagem isolada da velha mansão que já não está mais em seus dias de glória.

Porém, o ódio entre eles é mútuo e instantâneo. Edmund é um garoto mimado, extremamente controlador e territorialista. É fisicamente fraco e usa da manipulação e frieza para controlar todos. Já Charlie, é uma criança apática, um pouco deprimida e claramente solitária que só quer viver em paz, mas que passa a sofrer com a necessidade de Edmund de se manter no controle. 

Ele agora entendia, sem rodeios, que odiava Hooper. Nunca odiara ninguém, e a sensação lhe deixava mais um gosto forte na boca, de uma intensidade chocante. Tinham lhe ensinado que era errado odiar, mas ele não dera muita bola, pois parecia um sentimento que jamais sentira. Ele gostava da maioria das pessoas (...) mas não gostar de alguém era diferente, não era o mesmo que odiar.


Passei muita raiva lendo esse livro. Já esperava isso, claro, mas não tinha ideia de que seria pra tanto. Obras que trazem protagonistas tão jovens sendo tão maldosos causa uma revolta justificável no leitor. Edmund faz da vida de Charlie um inferno. E ele sabe disso e se deleita por tal. A sua necessidade absurda de sempre possuir o controle em cima de tudo e todos é chocante, sempre afirmando o seu poder através da figura de autoridade que é o pai, dono da casa onde Charlie agora vive com a sua mãe. Nem mesmo Edmund gosta do lugar, algo que ele mesmo diz. A casa é velha, repleta de animais empalhados graças ao hobby sombrio de seu falecido avô, mas ainda sim, ele faz questão de jogar na cara de Charlie que nada ali é dele. Ler sobre a maldade de Edmund mesmo através de uma mente claramente infantil é extremamente incômodo.

Conforme as páginas passam, fica clara a animosidade entre Joseph Hooper e Helena Kingshaw. Ambos viúvos com filhos pequenos, eles começam a se aproximar e um relacionamento não demora a surgir. Uma das coisas que mais me revoltou na obra foram os adultos. Sim, Edmund é problemático e um psicopata em desenvolvimento, já Charlie é um garotinho bastante depressivo e de pouca autoestima que só quer ser invisível, porém os adultos são os mais cegos em todo o livro. Eles fingem se preocupar com as crianças mas só enxergam o que realmente querem. São facilmente manipulados por Edmund, ignoram e desacreditam nas palavras de Charlie e ignoram todo o resto com desculpas de que os dois estão se adaptando, se tornando bons amigos, que está tudo indo perfeitamente bem (quando obviamente não está) e que em breve serão uma família feliz.


É chocante a forma como Edmund consegue manipular os medos de Charlie, que ele descobre apenas observando o garoto, e utilizar disso para destruir aos poucos o psicológico do garoto apenas por tédio e para demonstrar superioridade e poder. Ver Charlie, que só quer ficar em paz, ser afetado por comentários soltos e pequenas ações de maldade é frustrante. 

Mas ele sabia, e Hooper também sabia, que a questão não era fazer. Bastava uma expressão de Hooper para refrescar a memória de Kingshaw. O terror que ele sofria era por se lembrar, por fantasiar com o próprio medo.


Esse é um livro parado, sem plot-twists e grandes reviravoltas. A trama é linear e construída lentamente, assim como os jogos psicológicos de Edmund. Ter acesso aos pensamentos dos dois, principalmente de Charlie, mesmo através da narrativa em terceira pessoa, ajuda a tornar todo o suspense ainda mais profundo, assim como a raiva. A autora sabe trabalhar bastante a premissa da qual se propôs e eu pude compreender totalmente a razão de Eu sou o rei do castelo ser considerado um clássico do suspense psicológico. É uma obra para causar raiva e incômodo no leitor e claramente consegue alcançar tal feito, principalmente com seu final fechado e agridoce que me remeteu a livros como Quando os Adams saíram de férias.

Para o leitor que gosta de livros que causem um misto de emoções, que mexem com a nossa mente e nos deixem revoltados, tristes e até mesmo assustados, é uma leitura incrível. Amei odiar Eu sou o rei do castelo, conhecer e me compadecer dos personagens. Foi uma leitura incômoda e diferente do que geralmente leio e que me agradou muito mas que claramente não é para todos os leitores devido à sua vertente mais psicológica e parada.

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2 comentários:

  1. Oi, como vai? Particularmente gosto de livros parados e sem plot-twists. Este aí parece ótimo. Que bom que curtiu a leitura. Sua resenha está incrível, viu. Excelente sua análise. Adorei. Abraço!



    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. Oi Leyanne, tudo bem?
    Eu gosto de leituras incômodas, mas não sei até que ponto conseguiria ler um livro que se passa inteiro com um personagem fazendo maldades assim ao outro, com adultos sendo omissos. Acho que não conseguiria encarar. :(
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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