[RESENHA] Como matei minha querida família

Olá, leitores! 

Páginas: 256 | Autora: Bella Mackie | Editora: Darkside Books | Ano: 2023 | Gênero: Crime, Suspense, Humor | Classificação Indicativa: +16

Já tinha uma pequena ideia do que esperar do livro, principalmente por conta desse título não apenas sugestivo mas que nos dá uma ideia do tom do livro e do que esperar, porém ainda assim, me surpreendi bastante durante a leitura.

Esse potencial dramático vive dentro de mim, mas há muito tempo aprendi a mantê-lo sob controle. Se você pretende executar um plano para, bem, executar um monte de gente, não pode deixar as emoções a flor da pele. Seria uma bagunça e nada é pior para manter o controle do que pecar pelo excesso e ser pega por isso.

Grace, a jovem protagonista narcisista e narradora da obra, é o tipo de personagem que de início nos faz criar até mesmo uma certa simpatia por ela, algo que rapidamente é perdido, já que ela é alguém de índole e personalidade detestáveis. A trama do livro gira em torno dela contando a história de sua prisão (que aparentemente foi sob uma acusação que não cometeu) e a vingança que ela busca com relação a sua família. Durante o começo do livro, quando ela vai nos contando sobre sua vingança e as razões para a mesma, é difícil não pensar que a garota tem sim suas razões, porém conforme vamos conhecendo ela melhor, percebemos que ela é tão podre quanto as pessoas que ela quer matar. 

Apesar de sua personalidade insuportavelmente arrogante, a qualidade do livro não é afetada por isso. Acredito que parte da qualidade vem justamente daí, uma vez que por ela ser tão arrogante, não podemos confiar em sua narrativa já que desde o começo ela se julga muito mais inteligente do que os outros. Falando em julgamentos, Grace julga cada pessoa que aparece em sua vida. Ela é sim uma mulher inteligente mas seu ego é tão grande que em muitos momentos ela acaba agindo de forma burra por achar que é mais inteligente do que todos.

Os preparativos para matar alguém são bizarros. Adoraria que houvesse um fórum na internet onde você pudesse compartilhar dicas e oferecer conselhos aos novatos, dizendo quais luvas são as mais práticas e debater sobre empurrões escada abaixo. Tipo o Maes.com mas para homicídios. Na verdade, imagino que haja algo assim na Deep Web, mas não quero procurar. É um negócio solitário e envolve muita espera e um pouco de tentativa e erro.

A obra é repleta de um humor bastante ácido, críticas e vingança. Desde o início nós sabemos que a protagonista não é uma boa pessoa e que possui "justificativas plausíveis" para suas ações terríveis. Por mais que Grace seja hipócrita e arrogante, do tipo que parece que nada é o suficiente para satisfazê-la, é difícil não torcer para ela em alguns momentos já que a sua narrativa prende a gente durante a leitura. 

É um livro perfeito? Não, principalmente por ter algumas barrigas na narrativa descritiva demais que poderia facilmente ser reduzida em algumas partes, mas mesmo assim é bem divertido de ler. Gostei muito do final, achei que o plot foi interessante e inesperado mas acho que não é algo que vai agradar todo mundo assim como o livro inteiro em si, já que foi surpreendente demais, indo por um caminho completamente diferente do esperado. 

Não te contei muito sobre por que estou aqui, certo? Isso é porque me ressinto de ter que contar. Não é a injustiça da coisa que me prende — seria bem idiota gastar meu tempo criticando a injustiça quando me safei de algo bem pior —, não, é a extrema banalidade de tudo isso. O motivo que me foi atribuído era patético. O ato que alegam que cometi teria sido fruto de um ataque de raiva, com uma falta de planejamento que eu teria odiado.

Algo na protagonista insuportável me lembrou a Madison do livro Condenada de Chuck Palahniuk, apesar das obras em si não terem muito a ver, acho que é por causa de suas personalidades bem narcisistas. Esse é o tipo de livro em que tudo poderia ter sido resolvido com terapia e tratamento psiquiátrico, ou até mesmo uma ida na justiça em busca de seus direitos. O ponto de vista que Grace nos traz é bem único, já que ela é sagaz em notar coisas que costumamos ignorar e mesmo ela sendo do tipo que acha que o mundo gira em torno de si, ela consegue nos fazer identificar com alguns de seus pensamentos, além de nos fazer refletir sobre as decisões que tomamos. 

Gostei bastante da leitura e espero ler mais obras desse tipo, que misturam crime, suspense e humor na medida certa, sobretudo quando possuem protagonistas de moral duvidosa, já que são o tipo que mais curto ler. É uma obra menos visceral do que esperamos ao nos depararmos com o título mas divertida e que desperta emoções durante a leitura.

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