[RESENHA] Pegas de Surpresa

Olá, leitores!

Esse é um livro bastante elogiado, então sabia que estava começando uma leitura conhecida quando o iniciei. Como sabia que o assunto que tratava se alinhava com meus gostos literários, minhas expectativas estavam altas.

Apesar de ler bastantes livros com temática LGBTQ+ esse aqui foge do que estou acostumada ao trazer culturas diferentes, saindo do núcleo ocidental. A autora é de Bangladesh, um país asiático com religião muçulmana predominante, mas ela mora atualmente na Irlanda, também lugar em que Nishat, a protagonista, vive. Há alguns anos ela saiu com sua família de Bangladesh, mas ainda é difícil essa adaptação, o choque cultural e, principalmente, a discriminação por ser quem é.

Nishat tem um dilema, que é se assumir para o seus pais mas, apesar de adorar sua cultura, a mesma tem intolerância contra pessoas da comunidade LGBTQ+. Esse é um desafio que ela quer enfrentar. E por não morar mais em Bangladesh, de certa forma ela sente que tem mais autotomia para ser uma mulher lésbica abertamente.

Mas, às vezes, simplesmente ser você mesmo - ser você de verdade - pode ser a coisa mais difícil de todas.

Nishat se mostra uma personagem forte e determinada ao longo do livro, mas mesmo assim isso não é isenta de cometer alguns erros nesse percurso, podemos sentir compaixão por ela, e algumas vezes impaciência, mas é totalmente compreensível de acordo com o contexto.

Na escola católica em que estuda, isso me lembrou do livro Guia para lésbicas na escola católica, a professora de negócios propõe um desafio que é montar seu próprio negócio, o mais bem-sucedido ganhará um prêmio. Nishat é bastante competitiva, e tem ideias sensacionais. Nessa empreitada, ela vai tentar construir um negócio de henna, que é bastante comum na sua cultura, mas não há muitas pessoas que o façam na Irlanda.

É nessa escola que a protagonista recomeça conviver com sua amiga de infância brasileira, Flávia, por quem ela também tem uma queda, o que é bastante fofo. No seu desafio de construir um negócio, ela se vê em um impasse quando nota que a menina de que gosta acaba tendo a mesma ideia que ela, reproduzindo a sua cultura sem de fato conviver com ela, uma forma de apropriação, para se beneficiar.

Gente branca gosta de pensar que raça é algo cuja profundidade se resume apenas à cor da nossa pele. Talvez porque a cor da pele delas traga tantas vantagens.

A falha nisso em suas perspectivas é que Nishat não é tão popular, enquanto Flávia é mais popular. Inicia-se então um tipo de rivalidade que vai acompanhá-la por todo o livro, guerreando junto com os sentimentos de confronto, rivalidade, e afeição. E isso abala bastante a protagonista. Quem se mostra sempre com ela é sua irmã, Priti, que é um amor. A relação delas é de companheirismo, e isso é bastante admirável, quando elas precisam de apoio, a outra está lá sempre, e mesmo quando brigam, o amor familiar fala mais alto.

São vários dilemas que a protagonista acaba enfrentando, e eles vão ter pontos críticos ao longo da leitura. Infelizmente Nishat também enfrenta algumas situações bem ruins, como homofobia e racismo, e o próprio apagamento da sua cultura, o que é horrível, pois de todas as formas tentar invalidar quem ela é. Acho incrível como ela foi forte enfrentar muitas das suas dificuldades, e tem uma garra impressionante.

Gostei bastante de ver uma protagonista brasileira no livro, ela é determinada, e apesar de ser rival da protagonista em alguns momentos, em suas conversas dá para notar várias características nossas que são bem reproduzidas. Não tem nada de achismo ou assuntos típicos generalistas, há assuntos variados que adorei reconhecer. Isso fez a leitura ser mais pessoal e importante para mim.